Blog do Daniel Benevides

Nessa Páscoa, dê livros comestíveis

Daniel Benevides

O índice de leitores está caindo, afirma uma nova pesquisa. Não li a pesquisa inteira (e espero não piorar o índice com isso), mas o resultado me deixou alarmado. Em conversa com o escritor Ronaldo Bressane, numa ruidosa festa de bebês (futuros não-leitores?), nos sentimos como animais em extinção. Se três livros por ano já credencia um cidadão ao título de leitor, certamente somos loucos, ao ritmo de um por semana, verdadeiros leitorossauros. De acordo com meu amigo, nem mesmo os jornalistas, espécie da qual participamos, com graus variados de convicção, têm o costume de abrir livros ou e-books e fechá-los depois de lido o ponto final. Tornou-se hábito exótico. Seremos estudados um dia? Imagino o fóssil de um leitor com um iPad na mão, lendo Os Imperfeccionistas, sátira implacável e genial aos …jornalistas! (Que nem por isso lhes despertou a atenção, ao que parece). Nada mal. Só não sei se a prática da leitura será vista como um costume salutar, que se perdeu, ou algo definitivamente estranho à nossa evolução, à essa altura já totalmente dirigida para práticas mais produtiva.

Certo é que o desespero já toma conta dos poucos defensores dessa espécie em extinção, os leitorossauros. Desespero em forma de bom humor, esperamos. Aliás, o que é o humor senão uma tradução palatável do desespero? Kafka que o diga. Mas quem é mesmo esse cara? Bom, então aí vai a dica para a Páscoa: livros de culinária comestíveis. Um exemplo perfeito da comunhão de forma e conteúdo. Pena que o bode Orelana já se tenha ido. Ele comeria toda a coleção, e só não encomendaria mais, porque talvez ainda preferisse – santa teimosia! – um clássico bojudo de Thomas Mann ou Guimarães Rosa. Bon appétit!