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Arquivo : Deixe o Grande Mundo Girar

O Mundo Girando
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Daniel Benevides

Ligo a TV e só se fala nos dez anos do 11 de setembro. Pego os jornais e lá estão as imagens do avião em ângulo estranho, como um tubarão visto de baixo, prestes a atacar, e da fumaça resultante, o fumo de um cachimbo da guerra. Lá estão as imagens dos prédios caindo, os gigantes que moravam no alto do pé de feijão. Lá está a imagem do homem caindo do céu, com um joelho dobrado, o que lhe confere uma elegância absurda, uma estranha dignidade.

O impacto é grande; é grande a comoção.

Mas há algo de terrível em toda essa comoção. Ela representa uma matemática diabólica, simboliza um aspecto cruel do mundo em que vivemos, mais ou menos comodamente.

É a matemática que diz, na sombra das manchetes, que um morto em solo estadunidense vale muito mais, centenas de vezes mais, milhares de vez mais, do que um morto em outros países, especialmente aqueles mais distantes, que são e foram em tantas ocasiões, vítimas dos mesmos Estados Unidos que hoje se colocam como a suprema vítima do terror globalizado.

Tudo o que gira em torno do 11 de setembro – a não ser a genuína dor pelo desaparecimento de entes queridos – parece mais uma grande ficção do que um fato histórico. E cada vez mais, à medida em que o tempo vai apagando as pistas do que realmente aconteceu e não é contado.

Ficção por ficção, é melhor ficar com alguns livros inspirados pelos ataques, como o excelente “Deixe o Grande Mundo Girar”, do irlandês radicado em Nova York, Colum McCann, sobre o qual escrevi aqui mesmo no UOL há um tempo.

 

 


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