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10 razões para George ser seu Beatle favorito
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Daniel Benevides

Diga-me quem é seu Beatle favorito e direi quem és. George Harrison e Ringo Starr são as escolhas menos óbvias, claro. Ringo era o engraçado, o feioso simpático, o carente, que precisava de uma ajudinha dos amigos. Já com George, a coisa complica.

Se ele não era o músico de talento sinfônico e rosto de querubim, como o Paul, nem o gênio de humor ácido e transgressivo como o John, tinha qualidades que muitas vezes superavam a de seus parceiros – principalmente se considerarmos suas carreiras-solo.

Hoje faz exatos dez anos que George morreu. Para lembrá-lo, separei dez boas razões para ele ser ou se tornar seu Beatle favorito:

1- Era o mais cool, o silencioso, aquele cuja expressão denotava mistério e uma modéstia não isenta de ironia. Para muitas fãs era o mais bonito. E era o Beatle de humor mais fino, britânico. Quando policiais deram uma batida na sua casa, sua reação, extra-cool, foi essa: “Sou um cara organizado: guardo as meias na gaveta de meias e as drogas na gaveta de drogas”.

2- Foi o autor da primeira música gravada pelos Fab Four, um exercício instrumental chamado “Cry for a Shadow”, e  também da última: a sintomática “I me mine”

3- Aprendeu cítara sozinho, na marra (e depois se aprofundou no instrumento com Ravi Shankar). O uso da cítara em Norwegian Wood e Within you, without you foi decisivo para popularizar a cultura oriental no ocidente, assim como sua devoção à filosofia indiana

4- É dele a primeira faixa do melhor disco dos Beatles, “Revolver”. A música é Taxman. Ah, é dele também Here comes the sun, While my guitar gently weeps e Something…

5- Era amigo de grandes comediantes, como Peter Sellers e o pessoal do Monthy Python, de quem foi produtor em A Vida de Brian

6- Foi organizador do primeiro concerto beneficente da história, o Concert for Bangladesh, atitude que depois seria imitada por deus e o mundo (mais o mundo do que deus)

7- Lançou o primeiro álbum triplo de um artista solo, o brilhante All things must pass, logo depois do fim dos Beatles, e provavelmente o único triplo a atingir o primeiro lugar das paradas, tanto nos EUA quanto na Inglaterra

8- Era especialista em jardinagem zen ao mesmo tempo em que frequentava os boxes da Fórmula 1

9- Participou de um dos mais divertidos supergrupos da musica pop, os Travelling Willburys, com Bob Dylan, Tom Petty e o lendário Roy Orbinson

10- Gravou um grande disco já com o câncer que o mataria pouco depois bem avançado, Brainwashed, com a ajuda do filho único Dhani, mostrando serenidade até o fim.


George Harrison e o pai de Madonna e Tarantino
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Daniel Benevides

Se Elia Kazan foi o pai de Martin Scorsese, o próprio Scorsese é o pai de Madonna e Quentin Tarantino.

A primeira afirmação é fácil de explicar: Scorsese já declarou o quanto foi influenciado por Kazan, diretor dos clássicos “Sindicato de Ladrões”, “Vidas Amargas” e outros. Mais que isso, dirigiu um documentário sobre o mestre, que será exibido na Mostra de São Paulo.

Já a segunda talvez exija a locação de um DVD para entender. Foi o que eu fiz, inadvertidamente, ao ver o filme de estreia de Scorsese, “Quem bate à minha porta”, estrelado pelo amigo Harvey Keitel.

Praticamente um filme de pós-graduação, demorou cerca de quatro anos pra ficar pronto: Scorsese começou a filmar em 1965 e o título só apareceu num luminoso em 69. Isso por conta de grana, falta de tempo, dificuldade de agenda, dúvidas sobre o roteiro etc. Keitel tinha algum emprego burocrático na época e tinha de sec desdobrar para comparecer ao set, onde chegava a dormir, tamanho o empenho.

Valeu o esforço – o resultado é fascinante. Quando surgem os letreiros finais, fica a impressão de que estava muito adiante do seu tempo. Muito do que Tarantino popularizou em “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction” já estava lá, trinta anos antes: o uso criativo de música pop/rock/cool, os planos inusitados, nunca óbvios, a vida marginal e violenta dos personagens, o figurino vintage, as referências cinematográficas explícitas, os diálogos casuais e aparentemente deslocados, quase como sketches independentes do enredo. E por aí vai. Viciado em cinema, Quentin deve ter colocado os fotogramas desse filme numa seringa e tomado uma overdose.

E Scorsese vai ainda mais longe, misturando sexo livre à culpa cristã, imagens de mulheres e homens nus a closes de santos e Jesus na cruz, e tendo ao fundo a “piscanalítica” ‘The End”, dos Doors. A porta do confessionário se funde à porta da mulher desejada; os pés de Cristo confundem-se com as curvas de uma amante na cama; o olhar compungido de uma santa surge em fusão com uma cena de estupro. Keitel beija a imagem do Salvador e um filete de sangue escorre por sua boca. Impossível não pensar naquele famoso clipe da Madonna e seu Jesus negro, ou mesmo na forma como La Cicconne sempre misturou ícones católicos e imagens sexuais.

Relativamente pouco comentado, assim como o incrível “Alice não mo0ra mais aqui”, outro grande filme do começo da carreira de Scorsese, “Quem bate à minha porta” merece o crédito de pioneiro de uma estética que hoje virou quase regra entre moderninhos e descolados. Foda, pra dizer o mínimo.

“Taxi Driver”, no entanto, também um filmaço, continua a fazer barulho. E tem também espaço na Mostra de São Paulo, onde será exibido com cópia restaurada.

Outro Scorsese exibido recentemente no Brasil é “Living in the Material World”, documentário sobre o beatle silencioso, George Harrison. Agora no fim de novembro fará dez anos de sua morte. Escrevi há um tempo um perfil dele para a revista Vida Simples. Ficou bacana, tá aqui.

 


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